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O QUE HÁ POR TRÁS

DA CALVÍCIE FEMININA?

“Você tem percebido uma diminuição no volume do seu cabelo?”. Em visita a uma dermatologista, em 2011, não pude esconder minha surpresa ao ouvir a pergunta. Eu estava ali, afinal, para falar de outros problemas cutâneos - e, apesar de ter, sim, reparado os olhares da doutora na minha franja, eu nem sabia que eram os médicos da pele, os responsáveis também pelas doenças capilares. Naquele dia, descobri que sim.

Um mês mais tarde, depois de arrancar fora um pedacinho do couro cabeludo em uma biópsia, saí daquele mesmo consultório com um pontinho no topo da cabeça e uma dúvida cruel: seria eu uma vítima da alopecia androgenética?

O resultado saiu pouco tempo depois, e a resposta foi positiva. Fiquei assus-tada: apesar das propagandas de pro-dutos mencionarem a importância da “força” e da “saúde” dos “fios”, pouco se fala sobre a alopecia, que pode afe-tar a sobrevivência dos nossos cabelos.

“A perda de cabelos pelas mulheres é extremamente comum."

- CINTIA CALVET, DERMATOLOGISTA

TELEFONE SEM FIO

A alopecia androgenética acarreta a calvície. Você provavelmente não sabia, como também era o meu caso, que mulheres podiam ter a caracte-rística “careca” determinada em seus genes. Particularmente, eu descobri isso da forma menos discreta possível: tendo ela detectada em meu DNA.

Sempre me falaram sobre o quanto meus cabelos eram finos. “Parece cabelo de neném”, ouvi muito por aí ao longo da vida. Segundo minha médi-ca, a tendência é que eles se afinem cada vez mais - e que, quando eu atin-gir a velhice, já não restem mais muitos fios para me lembrar da juventude.

Este tipo de alopecia se dá a partir da predisposição genética, que significa maior sensibilidade no couro cabeludo à dihidrotestostero-na, um hormônio que afina os cabelos. A médica que havia me diagnosticado, a dermatologista Cintia Calvet, diz que o diagnóstico

necessita de exames mais criterio-sos, mas que não é tão raro quanto se pensa. Ela mesma me revelou, à época, também sofrer do problema. “A perda de cabelos pelas mulhe-res é extremamente comum”, ela conta hoje. “E é o motivo de muitas consultas dermatológicas”.

Cerca de METADE das mulheres com mais de 65 ANOS são vítimas da alopecia androgenética

- INSTITUTO DE TRICOLOGIA DO REINO UNIDO

Em entrevista ao jornal britânico Daily Mail, a tricologista (especialista em cabelos) Carole Michaelides diz que, por volta dos 50 anos, cerca de metade das mulheres passa pelo processo de afinamento dos cabelos. Isso acontece por conta da queda, em mulheres mais velhas, de estrógeno no organismo. Segundo o Instituto de Tricologia do Reino Unido, do qual ela é membro, também cerca de metade das mulheres com mais de 65 anos são vítimas da alopecia androgenética.

Os cabelos têm papel central nas noções de beleza que cultivamos em nossa sociedade. Pode ser desesperador, portanto, vê-los indo embora. Cíntia alerta ao fato de a perda de cabelo, por conta disso, poder intensificar determinados quadros de depressão e ansiedade. Mas esclarece: quando o motivo da perda é de fato a alopecia androgenética, isso não quer dizer que a saúde do indivíduo está comprometida.

Existem diferentes motivos para a queda de cabelo, como é também o caso de doenças da tireoide ou da deficiência de ferro. Para quem tem o meu tipo de alopecia, o fato de o couro cabeludo não estar saudável, por motivos genéticos não quer dizer que isso tenha consequências (ou que isso seja uma consequência) na

saúde do seu corpo como um todo. "A pessoa pode ser saudável sob todos os aspectos e apresentar esta tendência genética ao afina-mento dos cabelos", explica Cíntia. "Essa diminuição dos cabelos não significa perda da saúde. Acaba sendo mais uma característica física que não trará problemas".

Não é possível "curar" a alopecia androgenética - mas é, sim, possível postergar seus efeitos. Para cuidar dos cabelos e mantê-los por mais tempo, é preciso um acompanhamento hormonal e o uso de medicamentos específicos. Esse é o caso do minoxidil e da espironolactona, alguns dos remédios mais comuns para o tratamento da calvície feminina, junto à finasterida e às pílulas anticoncepcionais.

ASSUMIDAS

Não: não é de ser careca que elas gostam mais. Pelo menos não a maioria delas. Há quem seja, no entanto, feliz da vida sem cabelos e sem minoxidil, espironolactona ou finasterida. É o caso da ilustradora paulistana Paola Saliby, de 28 anos. Ela foi diagnosticada com alopecia androgenética em 2013, e, no meio de 2015, decidiu, além de abandonar o tratamento, assumir sua genética de vez: a jovem raspou a cabeça.

"Não me arrependo de forma alguma. Por incrível que pareça, eu passei a me sentir mais feminina, mais ousada, mais segura e consequentemente, mais bonita."

- PAOLA SALIBY, ILUSTRADORA

“Eu estava muito infeliz com minha aparência e via que o tratamento não estava funcionando, mas foi depois minha última consulta no dermatologista que eu tomei a decisão", ela conta. A ilustradora montou um blog para conscientizar as pessoas sobre a existência da doença. Chamado de “Bald Hair Day” (“dia careca”, em tradução livre), o site conta com expli-cações teóricas sobre a alopecia e relatos de mulheres que, como a própria Paola, deixaram a “luta” contra a natureza de lado, aceitando de vez a cabeça à mostra.

Clique e conheça Amanda, dançarina que redescobriu

sua beleza ao decidir raspar os cabelos.

FOTOS: ACERVO PESSOAL

"Na época mais crítica, quando percebi que a minha condição estava piorando, comecei a pesquisar mais sobre alopécia feminina e fiquei surpresa em ver que quase não existe informação a respeito disso na internet", lembra ela. "Existem diversos sites da área

médica que explicam o que é alopécia, mas, fora isso, só encon-trei coisas terríveis, como sites de fofoca falando mal de celebridades com alopécia ou depoimentos de-sesperados de mulheres que não conseguem aceitar que estão perdendo os cabelos".

Pessoalmente, eu sigo tomando o Minoxidil. Apesar da Dra. Cíntia ter ficado de olho na minha franja quando me consultei com ela pela primeira vez, ainda me apego à ideia de que não dê para ver tanto assim, a minha carequinha. Vamos vendo o que acontece - e esperando que, até eu ter mais de 65 anos, não seja mais tão absurdo assim, ser ao mesmo tempo mulher e careca.

POR GIOVANA FEIX

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