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LOW E NO POO:

O NOVO MERCADO DE PRODUTOS

Nada como chegar em casa depois de um dia cansativo, entrar em baixo de uma ducha quente e usar aquele shampoo cheiroso, que faz uma espuma volumosa e que penetra fundo nas cutículas dos fios. Ao final do banho, você sente seu cabelo praticamente “cantar” de tão limpo. Dificilmente passa por nossas cabeças que talvez ele esteja limpo até demais, e que diversas substâncias importantes para nossa saúde capilar tenham ido ralo a baixo com aquela espuma cheirosa.

Você sabia que não só a  espuma que se forma ao esfregar seus fios, mas também os demais produtos capilares, podem conter substâncias nocivas para a saúde do seu cabelo? Os sulfatos, por exemplo, provocam o ressecamento dos fios e a perda da oleosidade natural. Já os derivados de petróleo formam uma tipo de uma “capa” que envolve os fios e que prejudica a absorção de substâncias necessárias para o cabelo. E, por fim, os parabenos, presentes em alguns

produtos capilares são utilizados para aumentar suas vidas úteis, porém há uma grande discussão acerca dos riscos que o uso dessa substância po-de causar à nossa saúde, já que podem causar alergias cutâneas e o enve-lhecimento precoce da pele. Infeliz-mente essas substâncias vão ser fá-ceis de se achar nos produtos, mas não em seus rótulos. Então, é preciso ficar atento aos nomes científicos que cada um desses compostos apresenta.

E se para um cabelo liso essas substâncias já fazem um mal danado, para quem tem cabelos cacheados e crespos, que tendem a ser naturalmente mais secos, é ainda pior. Frente a isso, Lorraine Massey, referência internacional no tratamento de cabelos cacheados, lançou o livro “O Manual Da Garota Cacheada - O Método Curly Girl”, ensinando as técnicas Low e No Poo.


A técnica Low Poo (pouco shampoo, em inglês) utiliza substâncias mais leves para realizar a limpeza dos fios, sem agredi-los. Os shampoos “liberados” para essa técnica não contém as substâncias descritas na tabela a cima, que são consideradas “proibidas”, logo não costumam fazer tanta espuma.

Já na No Poo (sem shampoo) não é usado nenhum tipo de shampoo, inclusive aqueles que podem ser usados para fazer o low poo. Os silicones insolúveis em água também são proibidos, já que essa substância só sai do cabelos com shampoo, por isso não se usa máscaras, leave-in e condicionadores. O processo de limpeza dos fios é chamado de co-wash e é feita apenas com condicionadores sem silicone.

SUBSTÂNCIAS NOCIVAS

PARA A SAÚDE DO CABELO

INFOGRÁFICO: WILLIAM NUNES

"Algumas pessoas não procuram produtos para  low e no poo

em si. O que mais me pedem são produtos para manter o cabelo saudável e natural. Boa parte

das minhas clientes fazem

low ou no poo sem saber."

- LEILA GUIMARÃES, DONA DA LOJA

"LOW E NO POO"

Além da tradicional lavagem dos cabelos, os métodos Low e No Poo exigem um cronograma capilar para que o cabelo realmente alcance o formato e a textura desejados. São três etapas básicas: 1) a nutrição, que ajuda na lubrificação e na maleabilidade dos fios; 2) a hidratação, responsável pela reposição hídrica dos fios, e, finalmente, 3) a reconstrução, que ajuda a repor a massa capilar perdida em processos que agridem os fios, como por exemplo as químicas. Cada tipo de cabelo necessita de um cronograma específico, já que uma determinada etapa pode ser realizada mais do que uma vez na semana segundo as necessidades de determinado tipo de cabelo.

A ideia inicial para essas técnicas seria gastar menos com produtos e ao mesmo tempo trazer mais saúde para os fios. Contudo, a busca por produtos que sejam “liberados” para as técnicas acaba alimentando um novo mercado, que cada vez mais busca se especializar nesse nicho.

Produto No Poo

FOTO: BRUNA EDUARDA BRITO

Para conhecer melhor os gastos das pessoas antes e depois de iniciarem o No e Low Poo, criamos e divulgamos um formulário com perguntas em grupos do facebook com essa temática. Das 586 pessoas que responderam, 47,6% gastavam em média entre 20 e 50 reais por mês comprando produtos capilares, enquanto 25% gastavam entre 50 e 100 reais. Depois de começar as técnicas, esses valores mudaram: 46,2% gastam entre 20 e 50 reais com produtos “liberados” enquanto 28,9% gastam entre 50 e 100 reais.

Das entrevistadas, 61% afirmam ter conhecido a técnica através de grupos do facebook. Leila Guima-rães é a fundadora de um deles, o “No e Low Poo para Iniciantes”, indi-cado para quem deseja aprender ou aperfeiçoar suas técnicas de cuidados capilares e já tem mais de 215 mil membros. Ela também é a dona da loja online Low e No Poo, criada em julho de 2015 e que vende exclusivamente produtos que são “liberados” para as técnicas.

Leila conta sobre a demanda de produtos para essas técnicas: “algumas pessoas não procuram produtos para  low e no poo em si, o que mais me pedem são produtos para manter o cabelo saudável e natural. Boa parte das minhas clientes fazem [low ou no poo] sem saber”. Segundo Leila, a procura por produtos “liberados” apresenta-ram crescimento de 37% nas vendas ao mês.

Já a loja online Beleza do Campo foi fundada em setembro de 2012 e se dedica a vender cosméticos e produtos naturais, orgânicos, veganos, fitoterápicos e antroposóficos. De modo geral, são itens formulados com extratos de plantas, flores e óleos essenciais e vegetais. Por se tratar de produtos mais puros do que aqueles comumente vendidos em supermercados e farmácias, Aline Vieira Feijó, sócia da loja, afirma que 80% do que vendem está adequado para a técnica de low poo e no poo.

“No início de 2015, fizemos uma pesquisa de satisfação com nossas clientes, pedindo sugestões de melhorias no site da loja. Algumas delas sugeriram que a gente criasse uma sub-seção chamada ‘no poo/low poo’ dentro da seção de cabelos, separando todos os produ-tos que já vendíamos e que seguis-sem as regras para esse tipo de tratamento. Foi quando percebemos

que havia um novo movimento - divulgado principalmente entre blogueiras e mulheres engajadas na causa. Criamos a seção e de um ano pra cá podemos dizer que foi a área que mais cresceu em audiência - em torno de 30% ao mês. Olhando nossos gráficos, em 1 ano, a seção triplicou de audiência”, conta Aline.

Por mais que a ideia inicial fosse gastar menos cuidando do cabelo, a prática não precisa necessariamente ser assim. As técnicas de low e no poo estão aquecendo um nicho até então pouco explorado no mercado capilar, e conforme mais pessoas entrarem em contato com as vantagens que os produtos sem sulfatos, derivados de petróleo e parabenos têm a oferecer para saúde de seus cabelos, muito provavelmente as vendas vão crescer ainda mais. Resta agora às marcas tradicionais enxergarem essa demanda e começarem a investir em produtos com menos químicas.

POR MARIANA MIRANDA

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